Por vezes, os pais se decepcionam com o mau comportamento dos filhos – na verdade espelham suas próprias falhas. E acabam educando por meio do desapontamento amargurado. Sem que percebam, para não sentirem seus egos feridos, se congelam por dentro e ficam fisicamente presentes, mas emocionalmente distantes, automáticos. Só sabem agir se o time está ganhando e eles forem eleitos os pais do ano.
Caminhos:
Tratar os filhos para que se sintam merecedores de amor em qualquer condição, inclusive quando são repreendidos. Para tanto, os pais devem se empenhar em superar os próprios sentimentos de não pertencimento em relação aos próprios pais. Devem ainda ter cuidado expressar seus julgamentos, pois isso pode criar a ideia de que só aqueles que compactuam de sua visão têm o direito de pertencer.
Permitir aos filhos que errem e acolher seus descaminhos com tranquilidade é essencial.
2. Troca afetiva
Tratamos aqui do desenvolvimento de nossa capacidade em sentir empatia, amor, cuidado para com aqueles que nos cercam e queremos bem. É mais delicado do que parece.
Saudável:
Para uma criança, a forma mais básica de entender amor passa pelo toque. Muitos pais imaginam que bastaria a presença, a fala, bons conselhos ou o dinheiro para demonstrar amor. No entanto, crianças não entendem essa linguagem simbólica, abstrata e conceitual. Nossa pele pede calor.
O afeto que recebemos é parte fundamental do sentimento de esperança que carregaremos pela vida. As pessoas pessimistas normalmente tiveram uma pobreza afetiva na infância.
A família saudável consolida um senso de amorosidade por meio dos necessários afagos, cafunés, abraços e beijos.
Patológico:
Muitas famílias acabam reproduzindo em casa a frieza e o congelamento emocional de gerações passadas. Presas num ciclo de dor, se fecham para a troca genuína e desinteressada de afeto. Justificam seu distanciamento por uma história de dor e se esquecem que muitas pessoas afetuosas deram o salto de mudança e não se acomodaram no passado de dor para muletear uma vida com falta de amor.
Outras famílias são apenas caricaturas de abraços e beijos. Não possuem real intimidade emocional. Falam sobre carinho e preocupação, mas temem entrar em contato com a vulnerabilidade essencial que nos torna humanos.
Várias pessoas olham seus pais e irmãos e têm uma sensação estranha de amor e mágoa. Agradecem o cuidado que tiveram, mas não conseguem deixar de cobrá-los por terem exagerado ou faltado nos cuidados emocionais.
Não é estranho notar alguns relacionamentos amorosos de jovem casais serem desastrosos, por inconscientemente reproduzirem modelos de amor misturados com raiva e medo de intimidade.
Ponderações…
Enquanto esperar que tudo esteja bem para oferecer algo de bom, sempre irá perpetuar um passado de dor. A intimidade emocional pode expor suas fragilidades, mas é ali que a verdadeira conexão acontece e desarma sentimentos de dominação familiar. É importante que se discutam sentimentos e não se restrinja a falar de fatos da vida familiar.
3. Comunicação
A família dá o contexto, a forma e o conteúdo de grande parte da maneira como vamos nos comunicar com o mundo ao longo de nossas vidas. O dicionário é o mesmo para todos, mas certas palavras carregam o tom próprio que trazemos de berço.
Saudável:
Uma comunicação positiva não é sempre florida, óbvio. Apenas busca ser clara e afetiva. Se vamos compartilhar um pensamento sabemos que teremos ouvidos atentos para não tirar conclusões precipitadas.
Patológico:
Muitos se queixam que, ao tentar falar algo de si, recebem uma enxurrada de conselhos, julgamentos e imposições carregadas de caminhos fechados, pessimistas, amedrontadores e pouco estimulantes. Essa é uma comunicação que não facilita. Ela interrompe, quebra, bloqueia e frustra o desenvolvimento psicológico.
Podemos perceber que uma pessoa tem pendências nessa área quando ela não se sente compreendida ao falar, pois seu vocabulário emocional é tão restrito ao que viveu com os pais que não consegue ter empatia pela fala do outro e perceber que nem todos falam a mesma “língua”, apesar de usam o mesmo idioma.
Ponderações…
“O que” dizemos é tão importante quanto “o como” dizemos. Honestidade acompanhada de gentileza aproxima muito mais do que a transparência e a sinceridade agressivas. Sentimentos como a raiva são bem vindos desde que olhemos para a tristeza e o medo que eles escondem. Fazer esse exame auto-crítico é doloroso, mas necessário.